Por: Cleiton Jesus Matos
Discente | Filosofia | UESB
Genealogia da Moral – Uma polêmica de Friedrich Nietzsche, é sem dúvidas uma obra essencial para quem deseja investigar as origens e o desenvolvimento dos valores morais na civilização ocidental. Nietzsche propõe uma crítica contundente à moralidade tradicional, em particular à moral cristã, considera por ele como uma construção baseada no ressentimento e na negação da vida.
Uma das principais contribuições do filósofo alemão é a diferenciação entre a moral dos senhores e a moral dos escravos. A primeira, associada à nobreza e aos indivíduos fortes, valoriza a afirmação da vida, a força e a vitalidade. Em contrapartida, a moral dos escravos emerge como uma resposta dos oprimidos que desenvolvem valores como humildade, compaixão e submissão. Essa dualidade revela uma luta intrínseca entre as forças que afirmam a vida e aquelas que a negam, evidenciando a complexidade das relações sociais e as dinâmicas de poder que moldam a moralidade. Nesse sentido, na primeira dissertação acerca do “Bom e Mau” ou “Bom e Ruim”, o filósofo da suspeita escreve:
A rebelião escrava na moral começa quando o próprio ressentimento se torna criador e gera valores: o ressentimento dos seres aos quais é negada a verdadeira reação, a dos atos, e que pensa por uma vingança imaginária obtêm reparação. Enquanto toda moral nobre nasce de um triunfante Sim a si mesma, já de início a moral escrava diz Não a um "fora", um "outro", um "não-eu" - e este Não é seu ato criador. (NIETZSCHE, 2008, p. 28-29).
Nietzsche também se debruça sobre a origem da culpa e do pecado, traçando suas raízes até relações econômicas de dívida. Ele argumenta que a noção de culpa foi transformada pela moral cristã, convertendo instintos naturais em sentimentos de remorso e repressão. Essa transformação resulta em uma moralidade que nega a essência vital do ser humano, criando uma profunda desconexão entre o indivíduo e suas pulsões naturais.
Além disso, o ressentimento é apresentado como um motor central da moralidade dos escravos. Aqueles que se sentem oprimidos criam valores que exaltam suas virtudes em oposição à força dos senhores. Esse ressentimento não apenas molda a moralidade, mas também perpetua um ciclo de negação e fraqueza que limita o potencial humano, nesse sentido Nietzsche também escreve:
O sentido de toda cultura é amestrar o animal de rapina "homem", reduzi-lo a um animal manso e civilizado, doméstico, então deveríamos sem dúvida tomar aqueles instintos de reação e ressentimento, com cujo auxílio foram finalmente liquidadas e vencidas as estirpes nobres e seus ideais, como autênticos instrumentos da cultura [...] (NIETZSCHE, 2008, p. 33-34).
Por fim, o “profeta” propõe a necessidade urgente de reavaliar e superar os valores morais tradicionais. Ele defende a criação de uma nova moralidade que celebre a vida, a criatividade e a força individual. Essa nova abordagem moral é essencial para o desenvolvimento humano e a superação das limitações impostas por uma moralidade que, em última análise, promove a fraqueza em vez da potência. Nietzsche nos convida a uma reflexão crítica sobre os valores que fundamentam nossas vidas, instigando uma busca por uma ética que afirme a vida e a força do indivíduo. Suas ideias continuam a ressoar desafiando as convenções e inspirando a busca por uma moralidade mais autêntica e vital.
Tremedal-BA, 22 de julho de 2025.
REFERÊNCIAS:
NIETZSCHE, F. Genealogia da Moral. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.
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