Por: Cleiton Jesus Matos
Discente | Filosofia | UESB
Antes de direcionar o leitor ao texto, faço uma breve nota biográfica de Santo Agostinho:
Um dos maiores pensadores do cristianismo e da filosofia ocidental, nasceu em 354 d.C., na cidade de Tagaste, no norte da África. Ele teve uma juventude marcada por inquietações espirituais e morais, passando por diversas correntes filosóficas e religiosas, como o maniqueísmo e o ceticismo, até sua conversão ao cristianismo, influenciado por sua mãe Santa Mônica e por Santo Ambrósio. Ordenado bispo de Hipona, dedicou sua vida à reflexão sobre Deus, a alma e o conhecimento. Sua filosofia é uma síntese entre o pensamento clássico, sobretudo platônico, e a fé cristã. Nesse contexto de busca pela verdade interior e pela iluminação divina, sua obra O Mestre a qual falarei hoje, apresenta um diálogo profundo sobre a linguagem, o ensino e a verdadeira origem do saber, temas que revelam seu esforço em compreender como o homem pode ser conduzido à verdade que habita em Deus. Enfim;
Santo Agostinho apresenta um diálogo entre professor e aluno, refletindo temas profundos sobre a natureza do conhecimento, da sabedoria e do ensino. A estrutura da obra é um diálogo, formato que permite a Santo Agostinho examinar em profundidade os conceitos filosóficos e educativos que dizem respeito ao pensamento. Através de uma discussão entre o professor, que representa a figura da sabedoria e da autoridade, e o aluno, que busca aprender e compreender, Agostinho descobre a relação entre ensinar e aprender e como “adquirir o verdadeiro conhecimento”.
No diálogo, ele aborda a importância da formação moral e intelectual do indivíduo, enfatizando a necessidade de orientação adequada para o alcance da verdade. O professor, ao longo do trabalho, não apenas transmite conhecimento, mas também instrui o aluno sobre a importância da virtude e da prática moral como fundamentos da verdadeira sabedoria.
Além disso, ainda no início da obra, Santo Agostinho logo discute a relação entre signos e significados, propondo que os signos são instrumentos que nos ajudam a compreender a realidade. Ele diferencia entre os signos que têm um significado claro e os que exigem interpretação. Agostinho argumenta que o uso correto dos signos é essencial para a educação e a comunicação, pois eles nos permitem transmitir ideias e sentimentos, porém, para ele, o conhecimento das coisas significadas vale mais do que os seus signos:
IX,25. Ag Quero, portanto, que compreendes que as coisas significadas devem ser tidas com maior apreço que os sinais, pois o que existe em função de outra coisa deve ter menor apreço do que aquilo em função do qual existe; salvo que julgues diferentemente. (AGOSTINHO, 2008, p, 394).
Segundo o Bispo de Hipona, uma das principais lições de um mestre com seu discípulo gira em torno da importância do aprendizado contínuo e da busca pela sabedoria. O mestre destaca que o conhecimento não é apenas uma acumulação de informações, mas uma experiência que deve ser vivida e refletida. Ele ensina que o verdadeiro entendimento vem da prática e da aplicação do que se aprende, além de trazer a tona a importância da humildade e da abertura para novas ideias e perspectivas.
Levando para o campo pessoal, tenho o entendimento de que sem a humildade é improvável a busca pela sabedoria, uma vez que o sujeito, que entende-se como possuidor de todas as verdades e da sabedoria não encontra mais, motivos para continuar, a humildade e a confissão da ignorância é peça chave para o avanço da reflexão e do conhecimento.
Nesse sentido, Agostinho nos mostra que o verdadeiro saber não é transmitido mecanicamente, mas brota de uma experiência interior iluminada por Deus. Sua visão valoriza não apenas o conteúdo aprendido, mas o caminho da busca, marcado pela humildade, pela reflexão e pelo desejo sincero de compreender. Assim, sua reflexão nos ajuda a lembrar que aprender é, antes de tudo, um movimento da alma em direção à verdade.
Tremedal-BA, 24 de julho de 2025.
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