Tremedal - BA, 31 de julho de 2025.
quinta-feira, 31 de julho de 2025
PLOTINO E A TEORIA DAS EMANAÇÕES (PROCESSÕES)
quarta-feira, 30 de julho de 2025
MOISÉS E O MONOTEÍSMO - FREUD
terça-feira, 29 de julho de 2025
A ALMA (DE ANIMA) SEGUNDO ARISTÓTELES
segunda-feira, 28 de julho de 2025
AS CINCO VIAS DE TOMÁS DE AQUINO PARA PROVAR A EXISTÊNCIA DE DEUS
domingo, 27 de julho de 2025
A ESSÊNCIA DO CRISTIANISMO SEGUNDO FEUERBACH
sábado, 26 de julho de 2025
SANTO AGOSTINHO E O MISTÉRIO DA TRINDADE
sexta-feira, 25 de julho de 2025
Sobre a Felicidade em Aristóteles
quinta-feira, 24 de julho de 2025
O MESTRE - SANTO AGOSTINHO
quarta-feira, 23 de julho de 2025
O MAL-ESTAR NA CIVILIZAÇÃO - FREUD
terça-feira, 22 de julho de 2025
A Rebelião dos Fracos: A Crítica de Nietzsche à Moral Tradicional
segunda-feira, 21 de julho de 2025
"DO INCONVENIENTE DE TER NASCIDO" DE EMIL CIORAN - BREVES CONSIDERAÇÕES
Neste dia nublado de segunda-feira, convido o leitor(a) a refletir sobre a condição humana:
A visão filosófica de Emil Cioran sobre a vida é predominantemente negativa, considerando-a um fardo repleto de dor e sofrimento, onde o nascimento é visto como um crime. Ele acredita que a morte é um alívio e um bem, representando a libertação do tormento da existência. Para Cioran, a vida é um estado contínuo de pesadelo, enquanto a morte oferece a possibilidade de escapar desse sofrimento.
Nesse sentido, fazendo uma “recordação” dos amigos que morreram, o filósofo romeno, escreve o seguinte no livro o inconveniente de ter nascido: “Penso em inúmeros amigos que já não estão vivos, e apiedo-me deles. Porém, não há assim tanto motivo para os lamentar, pois eles resolveram todos os seus problemas, começando pelo da morte. ” (CIORAN, 2010, p. 21).
Quando ele diz que "não há assim tanto motivo para os lamentar", isso revela uma perspectiva resignada, quase cínica, sobre a condição humana. Para Cioran, a morte, longe de ser um fim trágico, é a solução definitiva para todos os dilemas existenciais, especialmente o próprio fardo de estar vivo e consciente.
Ao longo do livro, Cioran reflete sobre a solidão e a alienação do ser humano, ressaltando o desajuste entre o indivíduo e o universo. Ele vê as aspirações humanas: amor, progresso, arte e religião como tentativas inúteis de preencher o vazio existencial. Para Cioran, a busca por significado é uma ilusão, e a única postura possível é aceitar o absurdo da vida com ironia e de acordo com isso ele escreve o seguinte aforismo:
Ao longo dos séculos, o homem fez tudo o que estava ao seu alcance para acreditar, andou de dogma em dogma, de ilusão em ilusão, e consagrou muito pouco tempo às dúvidas, breves intervalos entre os seus períodos de cegueira. A bem dizer, não se tratava de dúvidas, mas sim de pausas, momentos de descanso, que se sucediam às fadigas da fé, de qualquer fé. (CIORAN, 2010, p. 95).
Nesse aforismo, percebemos uma crítica incisiva de Cioran sobre à tendência humana de buscar certezas, mesmo às custas da razão ou da lucidez. Segundo ele, a história da humanidade é marcada por uma peregrinação de crença em crença, onde dogmas e ilusões são adotados para fornecer um sentido à existência. Contudo, esses momentos de fé são movidos mais por uma necessidade emocional do que por uma busca genuína pela verdade.
Cioran enfatiza que o homem dedica pouco tempo às dúvidas, pois duvidar exige coragem para confrontar o vazio e o incerto. Os momentos de ceticismo, descritos como "pausas" ou "descansos", não são necessariamente reflexões profundas, mas apenas intervalos entre as exaustivas investidas em novas certezas. A dúvida, em vez de ser um estado contínuo e produtivo, torna-se apenas um alívio temporário antes que o homem volte a se agarrar a outra crença.
Nesse sentido, a frase evidencia o paradoxo da condição humana: por um lado, buscamos sentido em dogmas e ilusões; por outro, somos incapazes de suportar por muito tempo o peso da dúvida radical. Cioran não apenas questiona a validade das crenças humanas, mas também sugere que a nossa insistência nelas é uma forma de cegueira voluntária, um afastamento do confronto honesto com o absurdo e a complexidade da existência.
Em síntese, podemos dizer que a filosofia de Emil Cioran nos confronta com uma visão profundamente crítica e desafiadora da existência humana. Para ele, a vida é um ciclo de ilusões e tormentos, onde o nascimento é uma imposição cruel e a morte, uma libertação inevitável. Sua análise da busca humana por significado revela um paradoxo intrínseco: somos atraídos pelas certezas dos dogmas e crenças, mas raramente enfrentamos a dúvida com coragem e profundidade.
Cioran destaca o vazio das aspirações humanas e a fragilidade de nossa condição, convidando-nos a aceitar a vida como um estado de absurdo e transitoriedade. Longe de oferecer consolo, ele nos desafia a encarar a existência com ironia e lucidez, reconhecendo que as respostas que buscamos frequentemente não passam de paliativos para uma verdade incômoda: a de que a vida, em última análise, não tem um propósito intrínseco. Essa postura filosófica, embora sombria, serve como um convite à reflexão e ao confronto honesto com os limites da condição humana.
Tremedal-BA, 21 de julho de 2025
REFERÊNCIAS
E. M. CIORAN. Do inconveniente de ter nascido, Lisboa: Livraria Letra Livre, 2010.
domingo, 20 de julho de 2025
A ESTÉTICA DO ORGANISMO EM SANTO TOMÁS DE AQUINO: UMA LEITURA A PARTIR DE UMBERTO ECO
Introdução
A estética medieval, especialmente a de Santo Tomás de Aquino, apresenta uma visão da beleza profundamente enraizada em uma metafísica do ser, em que a beleza não é entendida apenas como um fenômeno sensível, mas como um reflexo da ordem cósmica e divina. Segundo Umberto Eco (2010), essa concepção estética está centrada na relação entre forma e substância, através da qual a forma, como princípio inteligível, organiza e torna reconhecível a substância. A beleza, então, surge da conformidade entre esses dois aspectos, permitindo que o intelecto compreenda a essência do ser e reconheça sua harmonia interna. Nesse contexto, a estética do organismo, tal como proposta por Aquino, transcende uma mera apreciação sensorial, conectando-se à ideia de um mundo ordenado por Deus, no qual a beleza reflete a perfeição do ser e a coerência cósmica.
Para Santo Tomás, destaca o filósofo italiano (2010), a beleza está atrelada a três condições essenciais: proportio, integritas e claritas. A proporção (proportio) é o primeiro princípio a ser explorado, e, segundo Eco, ela é a chave para entender a harmonia interna dos seres, que não só se manifesta nas partes de um organismo, mas também ressoa na ordem cósmica universal. Essa proporção não é apenas uma preocupação estética, mas também uma manifestação da racionalidade divina, que estrutura o mundo em níveis infinitos de harmonia.
Já a integridade (integritas) aponta para a perfeição do ente, lugar onde a beleza surge quando um ser está completo, sem falhas em sua essência. Juntas, essas duas características formam um alicerce que permite compreender a beleza como uma expressão não apenas sensorial, mas espiritual e intelectual, refletindo a ordem de Deus no mundo.
Por fim, a claritas, ou luminosidade da forma, torna a essência do ser evidente ao intelecto, permitindo que o belo seja não apenas algo sensorial, mas também um reflexo da verdade inteligível.
Forma e substância
Na perspectiva tomista, destaca Eco (2010), a beleza não se reduz a uma aparência superficial, mas brota da conformidade entre forma e substância. A forma, entendida como o princípio inteligível de que estrutura a matéria, é aquilo que torna a substância reconhecível e ordenada, permitindo que o intelecto apreenda a sua beleza. Assim, a estética do organismo em Tomás de Aquino está enraizada em uma metafísica do ser, em que a forma revela a inteligibilidade da substância e permite a manifestação do belo como algo que possui coerência interna, proporção e claridade.
Eco enfatiza que, para os medievais, especialmente para Aquino, o belo se relaciona diretamente com a perfeição do ser. Um objeto é belo não apenas por causar prazer aos sentidos, mas porque sua forma expressa plenamente sua essência, isto é, sua substância. A estética do organismo, então, não é decorativa, mas estrutural: a beleza se dá quando há uma ordem intrínseca, uma adequação entre o que a coisa é e como ela aparece. Essa visão aponta para um entendimento ontológico da beleza, e o organismo, enquanto unidade viva e ordenada, torna-se modelo para pensar a harmonia estética como reflexo da ordem cósmica criada por Deus.
Proportio e Integritas
Eco (2010) destaca que, para Santo Tomás de Aquino, a beleza se manifesta quando três condições estão presentes: proportio, integritas e claritas. A proportio refere- se à justa relação entre as partes de um ser, ou seja, à harmonia interna que o torna ordenado e inteligível. Um organismo é belo quando suas partes mantêm uma relação equilibrada e funcional, evidenciando uma unidade viva e coerente. Essa noção, herdada da tradição pitagórica e platônica, ganha no pensamento tomista uma fundamentação ontológica: a proporção não é só estética, mas expressa a própria racionalidade do ser criado. Diz Eco:
Do lado objetivo, a proporção se realizará em infinitos níveis até alcançar as proporções cósmicas do todo, estabelecendo o Universo como Ordem. Ao expor esta visão, Santo Tomás no fundo repropõe teorias cosmológicas já formuladas, porém as páginas que se desenvolve esta descrição da ordem cósmica não deixam de ter vigor próprio e uma certa originalidade de tom. (ECO, 2010, p. 177).
Com isso, a proportio assume uma função abrangente, não apenas na composição de obras ou corpos, mas na própria estrutura do universo, tornando o belo um reflexo da ordem cósmica divina.
Por sua vez, a integritas diz respeito à totalidade e à perfeição do ente. Um ser é belo quando não lhe falta nenhuma parte necessária para realizar plenamente sua essência. Um organismo mutilado, incompleto ou disforme seria, segundo essa perspectiva, carente de beleza, pois não expressa sua substância de modo completo.
Claritas
Na análise de Umberto Eco, o terceiro elemento da tríade estética tomista, claritas, representa o momento em que a forma de um ser resplandece de modo evidente e inteligível. Mais do que um simples brilho sensível, a claritas é a expressão da essência tornada visível, uma espécie de iluminação interior que revela a verdade da coisa. Para Santo Tomás de Aquino, a beleza não é apenas percebida por uma harmonia externa, mas também pela capacidade da forma de se manifestar com nitidez, de modo a tornar-se objeto de contemplação intelectual e espiritual.
Eco enfatiza que a claritas está profundamente ligada à tradição neoplatônica, especialmente à ideia de que toda forma bela possui um caráter luminoso, como se uma luz intelectual emanasse da estrutura ordenada do ser. Ele aponta: "A claritas é ontologicamente clareza em si e torna-se clareza para nós, clareza estética, quando uma visão se especifica, ao se lançar sobre ela.” (ECO, 2010, p. 184). Assim, a beleza deixa de ser apenas um dado sensorial e passa a ser um sinal da inteligibilidade e da presença de sentido no mundo criado. Ver é, portanto, compreender; e compreender é intuir, na forma, uma presença que a ultrapassa, isto é, o reflexo do logos divino.
A claritas, nesse contexto, atua como ponto culminante da estética do organismo, pois é o que permite à forma ser não apenas estruturada (pela proportio) e completa (pela integritas), mas também transparente à sua verdade ontológica. A forma bela brilha porque está plenamente em ato, e esse brilho não é meramente físico, mas simbólico e espiritual. Em última instância, a claritas é aquilo que conecta o visível ao invisível, a estrutura do ser à luz da razão divina, revelando a dimensão teológica da beleza segundo Tomás de Aquino, tal como Eco a interpreta com precisão e profundidade.
Considerações finais
O estudo da estética medieval, sob a ótica de Santo Tomás de Aquino destacado por Umberto Eco, revela uma compreensão da beleza que ultrapassa a superficialidade dos sentidos e se enraíza em uma metafísica do ser. A visão tomista propõe que a beleza é uma manifestação da perfeição do ser, refletindo a harmonia entre forma e substância, e estando intimamente ligada à ordem cósmica divina. Através das três condições essenciais — proportio, integritas e claritas, Tomás de Aquino estabelece que a verdadeira beleza surge da totalidade do ser, da justa proporção entre suas partes e da clareza com que sua essência se revela ao intelecto humano.
A proporção se apresenta como a chave para entender a harmonia interna dos seres, ligando a estética ao cosmos e refletindo a racionalidade divina que estrutura o mundo. Já a integridade defende que a beleza só se realiza quando um ser é completo em sua essência, sem falhas ou mutilações. Por fim, a claritas encerra a tríade estética tomista, atribuindo à beleza uma dimensão intelectual e espiritual, na qual a forma, ao resplandecer com clareza, torna-se um sinal da presença divina e do Logos.
Em sua totalidade, a estética de Aquino, mediada pela leitura de Eco, nos oferece uma visão holística da beleza, que não se limita ao plano sensorial, mas atinge a profundidade ontológica e teológica do ser. A beleza, para Tomás de Aquino, é, assim, uma via de acesso à verdade divina, refletindo a perfeição do mundo criado e servindo como elo entre o visível e o invisível. Essa concepção não apenas enriquece a compreensão medieval da estética, mas também proporciona um ponto de reflexão profundo sobre como percebemos e nos relacionamos com o belo no mundo.
Referências
ECO, Umberto. Arte e beleza na estética medieval. Tradução de Mário Sabino. Rio de Janeiro: Record, 2010.
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